Verdes, vermelhas, amarelas, azuis, brancas ou pretas...
Lembro da minha infância, quando preferia as continhas, os botões, os grãos de feijão e outros carocinhos às bonecas estereotipadas que as vezes ganhava da minha mãe. As bugigangas viravam criaturas tão vivas quanto eu. Elas corriam, saiam, cantavam, dançavam. Eram personagens cheios de vida, com seus desejos mais íntimos revelados na minha imaginação. Pensava se outras garotinhas também brincavam de modo tão estranho, mas tudo voltava a ser o que era quando alguém se aproximava. Paulas, Sofias, Julies, Pedros e Jans tornavam-se em segundos feijões, botões e continhas coloridas.
Nada do que eles viviam fazia parte da minha vida. Ao contrário. Eram sociáveis por demais, se comunicavam bastante, se aventuravam, eram ousados e passavam longe da solidão. Seria muita pretensão deixa-los presos ao mesmo mundo em que eu vivia. Eles precisavam experimentar de forma diferente. Assim os fazia.
Depois de decorrer alguns tantos anos, até hoje não posso dizer que tive experiências tais quais as dos meus personagens imaginários. E nem era pra ser. Deles só trago as cores e formas. O suficiente para mim.